domingo, outubro 19

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Bom.
Então a gente estava lá, cheio de gente estrategicamente descabelada e moderninha.
A van tinha parado no hotel e a maioria do pessoal havia ido descarregar o cenário no Cine Theatro Central. Eu, acompanhei a maioria. Quando o segurança bonzinho abriu a porta de correr do fosso do teatro (a parte que fica em baixo do palco), era 12:30 e um ar estranho saiu de lá de dentro, talvez fosse o tempo. Era um teatro enorme, monumental dava pra dizer, de 1929. De pé no proscênio, olhando do palco para a platéia, se tinha uma idéia do monumentalidade daquela estrutura, a impressão era de que seria engolido a qualquer momento. O teto a lá Capela Sistina do pintor Angelo Igi, ostentava nomes como Wagner, Verdi e Carlos Gomes. O comprimento era quase assustador, 1851 lugares. "Putz", pensei. Depois de algumas horas consegui me acostumar com aquele clima de ostentação e suor. Só para carregar o cenário - feito de estruturas de madeira e metal -, do fosso para cima do palco, foi uma tristeza. Tudo pesado demais. E dá-le coluna estalando, joelho fudido e músculo doído. Depois de subir peça por peça, começamos a montagem, que é uma parte mais lógica, mas nem por isso menos esforçosa. Oito horas depois, o cenário estava montado, a luz quase toda afinada, e nós todos quase mortos, de cansaço e de ansiedade. 21H as cortinas se abriram e entramos em cena. Clima de estréia. Muita gente assistindo e muita gente indo embora. "Polêmica", eu quase disse baixinho. Três sinais dados, e, em dois pulos, já dava pra identificar uma ou outra risada vinda de lá de baixo. Quando o nome de Carlos Alberto Bejani foi anunciado, aplausos em cena aberta. Com alguns errinhos técnicos aqui, outros acolá, fomos rapidamente chegando ao fim da apresentação. "Nussa, muito rápido." pensei, "Rápido demais", pensei de novo. No fim, aplausos calorosos, amigos no palco, água, água e + água. Uma impressão de não se ter impressão nenhuma tomou conta. Mal havia acabado a apresentação e já tinha uns 2 ou 3 loucos recolhendo coisas e desapertando parafusos. Aos poucos deixei ser levado por aquela loucura, quando percebi, já estava juntando porcas e chapas de ferro num canto qualquer do teatro, começava o ritual sudoríparo inverso de desmontagem e carregamento. 23:30 e tudo quase certo, enquanto alguns resolviam os últimos detalhes sobre o transporte do cenário, eu já fumava um cigarro deitado na cama do hotel. "Rápido demais", pensei de novo.

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